Senhor do Bonfim de Crateús: A Fé que Fundou uma Cidade

A história de Crateús confunde-se com a chegada da imagem do Senhor do Bonfim no século XVIII. Enquanto a cidade ainda era uma vila de sertanistas e criadores de gado, a presença da fé no Cristo crucificado serviu como o alicerce para a formação da sociedade crateuense.

O Início e a Doação de Terras (Século XVIII)

A devoção começou por volta de 1748, quando a família parnaibana de D. Luíza de Sousa e seus descendentes trouxeram a imagem para a região. O gesto que consolidou a cidade ocorreu em 1770, quando D. Luíza doou meia légua de terra para o patrimônio do Senhor do Bonfim. Foi ao redor da pequena capela erguida nessas terras que as primeiras casas foram construídas, dando origem ao que hoje é o centro da cidade de Crateús.

A Catedral e a Evolução da Fé

A pequena capela original deu lugar, ao longo dos anos, à imponente Catedral do Senhor do Bonfim. Localizada na praça principal, a catedral não é apenas um templo religioso, mas o coração geográfico de Crateús. Em 1964, com a criação da Diocese de Crateús, a igreja foi elevada ao status de Catedral, tornando-se a sede do bispado e reforçando a importância do padroeiro para toda a região dos Sertões de Crateús.

O Festejo de Janeiro

Diferente da tradição de Salvador (que ocorre na segunda quinta-feira do ano), os festejos em Crateús têm data fixa e contam com uma característica muito própria do sertanejo:

  • Período: A festa acontece tradicionalmente de 21 de dezembro a 1º de janeiro.

  • O Réveillon com o Padroeiro: O ápice da festa ocorre exatamente na virada do ano e no dia 1º de janeiro. Para o crateuense, começar o ano novo sob a proteção do Senhor do Bonfim é um rito sagrado.

  • A Procissão: No dia 1º de janeiro, uma multidão toma as ruas da cidade em uma das maiores demonstrações de fé do interior do Ceará, conduzindo a imagem centenária em um clima de profunda gratidão e renovação de votos.

O Significado para o Povo

Para o habitante de Crateús, o Senhor do Bonfim é o "Dono da Terra". Ele representa a resiliência diante da seca e a esperança de dias melhores. A frase "Senhor do Bonfim de Crateús" é dita como uma invocação de proteção para as famílias, para a colheita e para todos os que partem e retornam à cidade.